O produtivismo na academia, que se expande por todo o globo, impõe-se pelo entrelaçamento da concessão de financiamento com a adoção de métricas de avaliação majoritariamente quantitativas e enviesadas.

No Brasil, esta pressão é responsável, por exemplo, pelo fato de que ocupemos, no ranking entre os diferentes países, a 12ª posição em quantidade de artigos indexados, enquanto que o número de citações a esses tenha caído para a 27ª posição. Como bem coloca Keneth de Cargo Jr, professor do Departamento de Planejamento e Administração em Saúde do Centro Biomédico da Universidade do Estado do Rio de Janeiro:

Espalham-se subterfúgios para incrementar a quantidade de artigos e capítulos publicados, e mesmo de citações: a produção em série de artigos sem maior interesse ou inovação, ainda que fundamentalmente corretos, a multiplicação do número de autores para cada texto sem que se considere adequadamente a atribuição de autoria, a distribuição de conteúdos entre diversas publicações (conhecida como publicação salame) e a criação de verdadeiros clubes de citação mútua são fenômenos há muito conhecidos na literatura mundial e que começam a se manifestar em nosso meio (DE CAMARGO JR, 2013).

Além das questões do financiamento condicionado a métricas quantitativas, a própria atividade de publicação se converteu em um ramo altamente lucrativo, com o acesso a artigos custando dezenas ou mesmo centenas de dólares. A mercantilização da ciência subsumida ao capital restringe a circulação das ideias científicas pelas cobranças efetuadas aos leitores dessas publicações.

Para Waters, há que se combater “a ideia de que as editoras universitárias deveriam se transformar em ‘centros lucrativos’ e contribuir para o orçamento geral da universidade” (WATERS, 2004, p. 2 tradução nossa). Esta teratologia, restringir a divulgação de resultados científicos com o intuito de lucro, utilizando-se do dissimulado argumento de valorização do trabalho do autor, foi alvo do questionamento de John Perry Barlow, um dos fundadores da Electronic Frontier Foundation:

É um consolo saber que a espécie humana conseguiu produzir um trabalho criativo decente durante 5000 anos que precederam 1710, quando o Estatuto de Anne, a primeira lei moderna de direitos autorais, foi aprovado pelo Parlamento Britânico. Sófocles, Dante, da Vinci, Botticelli, Michelangelo, Shakespeare, Newton, Cervantes, Bach – todos encontraram motivos para sair da cama pela manhã, sem esperar pela propriedade das obras que criaram (BARLOW, 2000).

Em 2004, os governos do Brasil e da Argentina foram responsáveis por promover A Declaração de Genebra Sobre o Futuro da OMPI, no marco do desenvolvimento de uma agenda para a Organização Mundial da Propriedade Intelectual, que afirma que “o mundo está enfrentando uma crise na governança do conhecimento, tecnologia e cultura” pelo acesso desigual a remédios e educação, pelas práticas anticompetitivas que levam à concentração de propriedade, impedindo o acesso ao domínio público por conta de interesses privados (DECLARATION, 2004). Na Europa uma iniciativa semelhante resultou na Declaração de Berlim sobre Acesso Livre ao Conhecimento nas Ciências e Humanidades que resultou em 2003 de uma conferência organizada pela Sociedade Max Plank (DECLARATION, 2003).